IMUTÁVEL – Meditações

3 meditações profundas sobre a imutabilidade de Deus, construídas por altura do XXII Aniversário da Casa da Cidade. Obrigado pelo dom e sensibilidade, Anderson, Marcos e Maria.

SUGESTÃO: As seguintes meditações podem ser usadas para vossa reflexão em forma de devocional (uma por dia por exemplo).

Anderson Sampaio

Imutabilidade divina.

Quando estudamos, pensamos ou refletimos sobre Deus (e isto não é colocar Deus numa mesa e dissecá-lo, mas perceber aquilo que Ele quis dar a conhecer de Si mesmo), um dos atributos que salta aos nossos olhos é a IMUTABILIDADE. E aqui quero considerar algumas coisas:

1. O fato de Deus não mudar é uma verdade que não muda. Ela não pode ser relativizada pelo tempo ou por alguém. A incredulidade não transforma verdades em mentiras, já o contrário não é possível garantir. Entra governo, sai governo, correm os séculos, mudam as estações, as pessoas mudam com o passar dos anos, sofrendo o efeito corrosivo do tempo, mas Ele permanece inalterável, e isso é uma verdade absoluta incontestável!

2. Se Ele fosse mutável não seria Deus, mas gente como a gente, que muda o tempo inteiro, que transita de uma opinião para a outra, num piscar de olhos, que hoje ama e amanhã odeia, inconstante, variando ao sabor das circunstâncias. Ele não é assim. E crer em Deus é crer em absolutos, numa existência relativizada pelo pecado.

3. Ele é perfeito e por isso não tem necessidade de mudar. “Eu Sou O que Sou ou Eu Sou o que Serei”, disse Ele a Moisés (Êx. 3:13-14), descartando nomes para se identificar no meio de tantos deuses. A pergunta que me ocorre é: como é que alguém já é o que será? Sendo imutável. Para muitos, Deus caducou com o tempo, não se limitando no espaço, e é diferente em cada circunstância. Ele é o que sempre foi e será o que sempre é. Somos a antítese disso, seres de passagem que precisam, mas não querem, mudar ou, pelo menos, por causa do orgulho, vergonha ou medo, resistem a esse processo inexorável da vida. Precisamos de ser atualizados, tal como o software de um computador ou outros sistemas operacionais, e podemos até dizer que em 2020 somos a nossa versão editada, revista, corrigida e, espero, também melhorada. Para seres mutáveis como nós, servir e ser cuidado por alguém que não muda é tão consolador e seguro.

Conclusão:

A inconstância ou inconsistência causa muita ansiedade, mas saber que Deus não muda é tranquilizador. E o texto que me ocorre quando me lembro desta verdade é:

“Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos. (Malaquias 3:6).”

Deus afirma que, por Ele ser imutável, eles não foram destruídos. Ele nos ama da mesma forma que sempre amou e não há nada de bom ou ruim que altere isso. O seu amor não pode ser afetado pelas circunstâncias, não tem prazo de validade e não se limita a questões geográficas. Nunca ouviremos de Deus que Ele nos deixou amar.

Nós, seres humanos, só conhecemos o amor através de condições, amamos quando, se ou porquê. Mas Ele simplesmente ama, imutavelmente!

Marcos Martins

“Não se conformem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da vossa mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:2

Descobri que também eu sou imutável. Pelo menos por mim mesmo. Eu só sei ser conformado ou transformado.

Mudança inerente ou mudança consciente. Inércia da vida ou vida do Espírito. Ser transformado por aquele que não muda ou ser conformado pelas ondas e correntes da vida. 

Eu decido ser transformado. Transformação. Uma forma superior, sim. Mas tiremos a arrogância do termo. É superior porque vem do alto. Porque clamamos por ela desde a nossa reconhecida inferioridade e pequenez.

E é na decisão de ser transformado que eu entendo que preciso de ser formado de novo. Renovado. Um upgrade diário, porque o do dia anterior caduca.

Só assim posso experimentar e comprovar que, afinal, as suas intenções para comigo sempre foram boas: 

Dia a dia, todos os dias.

Só aí, a sua imutabilidade passa a significar esperança para mim. 

Ele não muda. Não muda a sua essência, não muda nos seus atributos, nos seus planos e promessas, e nem mesmo nas suas ameaças. Mas sobretudo, não muda no seu amor.

Mas este mesmo Deus é aquele que vai mudar tudo o que for necessário para me trazer de volta para Ele. 

Este é o Deus que não mudou as suas intenções, mas que virará tudo do avesso só para se fazer real em cada um. É imutável, não inflexível. É imutável, mas não insensível. É imutável, não estático. 

É imutável na sua característica criadora, que inerentemente faz tudo novo. É imutável no seu compromisso de encontrar novas maneiras de se aproximar de nós, mesmo que isso às vezes signifique deixar-nos desorientados.

Preciso de ser transformado porque eu, a vida e o mundo, mudamos. Por isso estou sujeito a ser conformado, desvirtuado, e até levado a pensar que foi Deus que mudou. 

Daí a necessidade de ser levado de volta à forma daquele que não tem mudança nem sombra de variação. Uma forma sem molde, sem contornos de religião.

Neste mundo em constante mutação, Cristo aparece como verdade absoluta, como único caminho, como a única vida possível… Como linha de orientação eterna.

E é este mesmo Jesus que me pergunta por que motivo estou preocupado em apanhar atalhos, quando não há caminho fora Dele. Por que motivo eu haveria de afanar-me em procurar outras verdades, mais além das reveladas nas suas promessas eternas? Não há vida fora Dele. Aí fora só há uma certeza: A de que nada é certo.

E é nisso que Jesus aparece como âncora. Como porto seguro. Como chão para os meus pés. Como firme fundamento. Como rocha sobre a qual eu construo a minha vida.

Já dei por mim a edificar palha no fundamento inabalável que é Cristo. E o vento lembrou-me que as coisas da vida são passageiras. Tentei construir com madeira. O fundamento prevaleceu, mas vi como o fogo purificava as minhas motivações. Construí também com tijolo, mas assisti às paredes do meu templo a serem lembradas que não O podem conter. Entendi então que eu sou a habitação definitiva.

E como aquele homem que, vindo a tempestade, se prostrou no chão, no fundamento, não lhe dando hipótese de derrubá-lo, também eu sou lembrado que só é humilhado quem não se humilha antes.

Cheguei a pensar que, uma vez que Ele não muda, fosse mais fácil prever o que faria. Mas como prever o Deus Misterioso?

Só consigo prever quem Ele é e com quem Ele é. Ele é o que é e Ele é comigo, ainda que eu não entenda o que Ele faz. Ele é comigo, ainda que eu não saiba o que vai fazer. Ele é comigo, mesmo sem uma explicação para tudo o que Ele já fez.

Eu só sei que a sua vontade é boa, é perfeita e é agradável. E Ele diz-me que essa é toda a revelação de que eu preciso.

Sabemos tão pouco porque o mais que soubéssemos nos seria de tropeço, de presunção, de ideias pré-concebidas. Tudo isto infinitamente menos importante do que Ele.

Por tudo isto, a fé, a aventura da fé, a loucura da fé, se tornam sabedoria. O caminho incerto torna-se apetecível quando alimentado pela esperança de chegar a bom porto. 

Ele é fiel a si mesmo. O seu compromisso não é com a minha agenda, com as minhas ideias sobre quem Ele é ou o que Ele faz.

Ele não me é Leal. É Fiel. Fiel a mim, mas em primeiro lugar, fiel à sua natureza. 

Só se é, se se for para sempre. Só se é, se se for desde sempre. 

E, diante de tal Deus, só nos deveríamos atrever a balbuciar. 

Mas aquele que É, também diz que nós também podemos ser. Se estivermos Nele.

Maria Ivanishcheva

Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre.

O mundo está constantemente a mudar. O nosso planeta gira, mudando as estações e os dias da semana. Nós também mudamos. Resistimos a algumas mudanças e perseguimos outras. Uns de nós contam os dias que faltam para se tornarem adultos, saírem de casa, acabarem os estudos… Outros já se formaram na faculdade há muito tempo e gastam tudo o que ganham na tentativa de encontrar o elixir da juventude, tentando parar o tempo. E todos nós corremos arrastados pelo vento da mudança, incapazes de resistir a ele. Não temos certeza sobre o nosso amanhã. Não temos tempo para pensar no nosso ontem.

 Arquimedes disse: “Deem-me um ponto de apoio e uma alavanca e eu moverei o mundo.” Às vezes eu desejo ter esse ponto de apoio para parar o tempo. Parar esse fluxo de mudanças, que carrega o bem e o mal para o abismo do passado. Mas onde está esse ponto de apoio? Neste mundo, em constante corrida, onde encontro algo a que me possa agarrar?

Lembro-me da cozinha da minha avó. Às vezes, parece-me que era ali que estava o meu ponto de apoio. Lá, o tempo parecia não ter poder. Tinha uma caneca vermelha, com bolinhas brancas, da qual bebi aos 5, 15 e 20 anos… Um prato com um ouriço, cheiro de bolachas. Acho que muitos de nós temos esses lugares. Sentimo-nos seguros neles. Estamos bem lá, porque tudo nos é familiar, começando nas coisas, acabando nos cheiros. Mas, infelizmente, o tempo também tem poder sobre esses lugares. Eles não são eternos. Assim como a presença das pessoas que os criaram não é eterna. Quando partem, o nosso mundo parece acelerar ainda mais, porque perdemos mais um ponto de apoio…  Recebemos um novo sopro deste vento imparável da mudança que nos abala ainda mais.

Por que precisamos de lugares como este? Por que razão estas memórias penetrantes no tempo são tão queridas para nós? Por que é que o imutável é tão importante para nós?

Nascemos para a eternidade, mas parecemos nos dissolver na vaidade. Seja resistindo ao vento da mudança, ou tentando ultrapassá-lo, ficamos cansados da corrida em si. Há algo no nosso interior que gere essa vontade tão forte de parar. Somos estrangulados pela corrida, pelos bens materiais, pelos fluxos constantes de informação, pelo mundo que parece que está sempre a acelerar. É por isso que nos agarramos a esses lugares, pessoas e memórias, tão desesperadamente. Estamos à procura de um ponto de apoio para parar o tempo e as constantes mudanças, para dar um passo atrás e perceber quem somos e para onde afinal estamos a correr.

E só há um lugar que se pode tornar o nosso verdadeiro refúgio, o nosso ponto de apoio – os braços do Deus Imutável. Porque só Ele está fora do tempo, fora desta dimensão, fora deste vórtice de mudanças. Ele é o ponto de apoio capaz de virar o nosso mundo. E, Nele, não há mudança, nem sombra alguma. Precisamos tanto de sentir o aroma deste lugar, deixá-lo transbordar de lembranças, como aquelas que nos conectam a lugares da nossa infância.

Alguém disse: “O aroma de Deus não repousa sobre quem não passa tempo com ele”. Eu gosto desta frase. Assim como levei o cheiro da cozinha da minha avó ao partir para a casa dos meus pais, levo comigo o cheiro da imutabilidade de Deus, entrando na agitação deste mundo. E cada vez que volto para a corrida da mudança constante, quando digo que não tenho tempo, quando sinto que estou a perder o chão, preciso de lembranças para saber como parar, agarrando-me ao ponto de apoio mais confiável e constante. Preciso de estar mais com Ele, para ter tempo para tudo o resto, preciso parar para que aconteçam mudanças bem necessárias. Eu preciso do Deus que é o mesmo ontem, hoje e para sempre.

“Que ele vos conceda, com a riqueza da sua glória, a força de se manterem interiormente firmes e seguros, pelo Espírito.” Efésios 3:16 BPT09

acasadacIMUTÁVEL – Meditações